Foi a primeira vez que decidiu vender um livro. Ficara tão chocada ao ouvir a proposta que quase acusara o homem do sebo de maníaco desalmado. Seus livros, afinal, eram verdadeiros tesouros tratados como filhos. Cada um tinha com ela um envolvimento tão profundo que parecia de fato ter vida. Não que fosse uma madame Bovary, mas gostava de se perder nas palavras e sentir todas as coisas que sua vida sem brilho não permitia. Mergulhava nas personagens e entrava em êxtase a cada página virada, chorava com seu sofrimento e sonhava com o que ainda estava por vir. Vivia cada história até a última letra, quando, exausta, recuperava a própria identidade.
Mas o homem afinal tinha razão. Eram apenas livros, e com pouco espaço em casa e sem dinheiro para comprar outros, a solução era vender. Colocou-os sobre a cama e ficou relembrando suas histórias, um a um, como quisesse se despedir.
Foi quando viu aquela capa dura vermelha, com as letras douradas do nome já desgastadas. Havia muito tempo que o lera, mas podia lembrar-se de cada passagem e de cada emoção sentida. Lembrava de quantas lágrimas e sorrisos tinha derramado naquelas páginas. Era como se tivesse vivido tudo aquilo que jamais acontecera, como se fosse a sua própria história, ainda desconhecida, escrita por outras mãos.
Então imaginou quem iria comprá-lo. Seria digno de ler suas linhas? Iria sentir o mesmo? Era tão seu o livro que poderia tê-lo escrito, tanto que sentia uma angústia enorme em partilhá-lo. Pensou num jeito de deixar sua marca, para que esse alguém jamais a esquecesse. Era dela aquela história. Eram as suas palavras. Não poderia assiná-lo, pensou. Não se escreve num livro, devia até ser pecado. Não mudaria sua capa nem deixaria um papel. A marca teria de ser mais profunda, porém, mais sutil. Sutil...como um perfume que fica no ar.
Pegou seu perfume favorito e borrifou nas páginas amareladas. Sentia um prazer infantil em marcá-lo, quase como uma criança que descobre algo proibido. Colocou-o junto dos outros e os levou para a loja, com um sorriso no rosto. E quase não conseguiu dormir, imaginando quem seria o novo dono.
Mas o homem afinal tinha razão. Eram apenas livros, e com pouco espaço em casa e sem dinheiro para comprar outros, a solução era vender. Colocou-os sobre a cama e ficou relembrando suas histórias, um a um, como quisesse se despedir.
Foi quando viu aquela capa dura vermelha, com as letras douradas do nome já desgastadas. Havia muito tempo que o lera, mas podia lembrar-se de cada passagem e de cada emoção sentida. Lembrava de quantas lágrimas e sorrisos tinha derramado naquelas páginas. Era como se tivesse vivido tudo aquilo que jamais acontecera, como se fosse a sua própria história, ainda desconhecida, escrita por outras mãos.
Então imaginou quem iria comprá-lo. Seria digno de ler suas linhas? Iria sentir o mesmo? Era tão seu o livro que poderia tê-lo escrito, tanto que sentia uma angústia enorme em partilhá-lo. Pensou num jeito de deixar sua marca, para que esse alguém jamais a esquecesse. Era dela aquela história. Eram as suas palavras. Não poderia assiná-lo, pensou. Não se escreve num livro, devia até ser pecado. Não mudaria sua capa nem deixaria um papel. A marca teria de ser mais profunda, porém, mais sutil. Sutil...como um perfume que fica no ar.
Pegou seu perfume favorito e borrifou nas páginas amareladas. Sentia um prazer infantil em marcá-lo, quase como uma criança que descobre algo proibido. Colocou-o junto dos outros e os levou para a loja, com um sorriso no rosto. E quase não conseguiu dormir, imaginando quem seria o novo dono.
Um comentário:
não se pode rabiscar o livro mas perfumá-lo é okay? hum, sei lá, é uma escolha atípica. hauhauah mas entendi. tipo, eu acho que rabiscá-lo é muito mais bacana. penas, os rabiscos vão ficar ali p sempre, certo? que nem quando li uns comentários de uma amiga num livro que ela me emprestou - foi a crisseh, btw - e achei hilário que tais palavras e frases trouxessem a ela tal idéia. qdo dou livros eu anoto algumas coisas, se são livros velhos... o último livro importante que dei para algm tão importante qto foi um que tive de rabiscar quase por inteiro a contra capa com umas instruções. e acho que errei! acho que seria mais legal ter feito página a página. que ele soubesse que p mim ele seria o edmund de narnia e que para a gente casablanca não faz o menor sentido. coisas que só quem recebe o livro entenderia. um certo tipo de mágica.
planejo rabiscar um livro do llosa antes de passar ele adiante. 'pantaleão e as visitadoras' tem momentos que apenas uma mulher pode comentar sobre eles, entende? e acho que se o livro for parar na mão de um homem ele deverá ler o que uma garota pensa.
o perfume tem um lado místico para mim. pode trazer muitas coisas a mente. o cara lembrar de uma mulher é legal, eu entendo. mas uma mulher perfumá-lo intencionalmente para qualquer estranho eu não compreendo. eu não sou ela e não seria. em parte queria ser, mas anotar já tem sido tão legal! =D
então, li os dois textos. pensei nas duas visões e tive a sensação que seria legal que continuassem. tem algo muito voyeur em ler dois lados da mesma história assim. meio peeping tom da minha parte, mas acho que é aceitável ser dessa forma qaundo o assunto é um blog.
*'Então imaginou quem iria comprá-lo. Seria digno de ler suas linhas? Iria sentir o mesmo? Era tão seu o livro que poderia tê-lo escrito, tanto que sentia uma angústia enorme em partilhá-lo.'
com anotaçoes ou perfumes, não tem como garantir nada, certo? é irritante pensar nisso. como recomendar 'hable con ella' para algm e essa pessoa não achar tão magnífico. 'COMO ASSIM!?!?'
maybe i wrote enough. besote!
beca
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